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Carson McCullers

Sempre encontrei as duas edições da Carson McCullers da antiga Estúdios Cor. A sua primeira obra, "Coração Solitário Caçador", com tradução e prefácio de José Rodrigues Miguéis, editada em 1958 - penso que pela primeira vez; o original é de 1940.



Também os contos da "Balada do Café Triste" com tradução de Cabral do Nascimento e editada no ano seguinte.


Irão ser as minhas próximas releituras...

O prazer de reler

Agora  que surgem reedições de Carson McCullers renovei o prazer (e que prazer!) da sua leitura recorrendo a uma edição, da desaparecida Estúdios Cor, datada de Junho de 1959. Tradução de Cabral do Nascimento.


"Reflexos nuns olhos de oiro". Trata-se da segunda obra de Carson McCullers, a primeira que encontrei na minha estante desorganizada; irei à procura das outras que por lá tenho da mesma autora. Esta edição vem com um interessante e entusiasmado prefácio de Tennessee Williams. 
Foi em 1979 que encontrei esta e outras edições antigas esquecidas nos fundos de uma estante de uma livraria de Pombal. Comprei-as todas. Ainda tem o preço marcado - 20$00.
Ainda gosto destas coisas!

Os Cadernos de Malte Laurids Brigge

Li-o nos anos setenta por sugestão de um estimado amigo que hoje revejo menos do que devia.  Por essa altura fazíamos longos serões à conversa sobre as nossas duvidas, sobre o que o mundo esperava de nós e nós dele. Dávamos longos passeios a pé, por vezes embrenhados na noite então menos perigosa, como se esperássemos que ela não confirmasse a nossa frequente e melancólica conclusão: Qual o sentido da vida e como procurá-lo; nós não sabíamos.
Recordo bem a história do seu entusiasmo com "Os Cadernos de Malte Laurids Brigge" e como a importância do texto lhe tinha chegado.  Se bem me lembro por sugestão de João Bénard da Costa.

Ainda tenho essa edição da Editorial Inova de 1975.


Há não muito tempo e depois de curiosas insistências do meu filho mais velho sobre livros e literatura, veio este livro à baila. Não resisti a folheá-lo de novo. Como não resisto a transcrever esta magnífica página.

"Creio que devia começar a trabalhar, agora que aprendo a ver. Tenho vinte e oito anos, e até aqui aconteceu tanto como nada. Vamos repetir: escrevi um estudo sobre Carpaccio, que é mau; um drama chamado «Matrimónio» que quer provar, por meios equívocos, qualquer coisa falsa; e versos. Ah, mas que significam os versos, quando os escrevemos cedo! Devia-se esperar e acumular sentido e doçura durante toda a vida e se possível durante uma longa vida, e então, só no fim, talvez se pudessem escrever dez versos que fossem bons. Porque os versos não são, como as gentes pensam, sentimentos (esses têm-se cedo bastante), - são experiência. Por amor de um verso têm que se ver muitas cidades, homens e coisas, têm que se conhecer os animais, tem que se sentir como as aves voam e que se saber o gesto com que as flores se abrem pela manhã. É preciso poder tornar a pensar em caminhos em regiões desconhecidas, em encontros inesperados e despedidas que se viram vir de longe, - em dias de infância ainda não esclarecidos, nos pais que tivemos que magoar quando nos traziam uma alegria e nós a não compreendemos (era uma alegria para outro - ), em doenças de infância que começam de maneira tão estranha com tantas transformações profundas e graves, em dias passados em quartos calmos e recolhidos e em manhãs à beira-mar, no próprio mar, em mares, em noites de viagem que passaram sussurrando alto e voaram com todos os astros, - e ainda não é bastante poder pensar em tudo isto. É preciso ter recordações de muitas noites de amor, das quais nenhuma foi igual a outra, de gritos de mulheres no parto e de parturientes leves, brancas e adormecidas que se fecham. Mas também é preciso ter estado ao pé de moribundos, ter ficado sentado ao pé de mortos no quarto com a janela aberta e os ruídos que vinham por acessos.
E também não é ainda bastante ter recordações. É preciso saber esquecê-las quando são muitas, e é preciso ter a grande paciência de esperar que elas regressem. Pois que as recordações mesmas ainda não são o que é preciso. Só quando elas se fazem sangue em nós, olhar e gesto, quando já não têm nome e já se não distinguem de nós mesmos, só então é que pode acontecer que, numa hora muito rara, do meio delas se erga a primeira palavra de um verso e saia delas...
 Mas todos os meus versos nasceram de outra maneira; não são versos portanto. "
In "Os Cadernos de Malte Laurids Brigge", Rainer Maria Rilke


Nos anos setenta era muito cedo para sabermos qual o sentido da vida. Nós não sabíamos. Nós não sabemos.

Roberto Bolaño



Estou a ler (e a acabar) "Os Detectives Selvagens" do Roberto Bolaño. Excelente. Obrigado Paula/Fernando.

Nunca tinha lido nada dele e, a pensar neste livro, estou ansioso pela sua Obra Prima "2666".


Sai amanhã...

A Ronda da Noite

"Os mandamentos não se destinam a promover a perfeição do homem, mas a medir as suas imperfeições, mais necessárias do que ímpias."

In Agustina Bessa-Luís, A Ronda da Noite.

Como na vida...

"O melhor, nas mulheres, são os defeitos. Com as virtudes chega-se ao altar mas não a um trono, quer dizer a uma boa cama." In Agustina Bessa-Luís, A Ronda da Noite.

Evolução da palavra latina "coquina"